sexta-feira, 27 de maio de 2016

Toquei a campainha e corri.

Corri o mais rápido que pude. Mentira. Essa não sou eu. Toquei a campainha e fiquei. Resisti ao impulso de ir embora. Os pés pesando toneladas. Os olhos ardendo. As unhas roídas. O estômago revirando e aquela dor de cabeça-enjôo, tão conhecidos meus. Concentraria na respiração, se houvesse. Mas, o ar estava suspenso. A vida, também. Já o coração batia forte e o corpo todo palpitava, num ritmo acelerado. Podia parar, pensei. Podia sumir, eu. Se não fosse essa estátua, estática, de mim mesma. Um arremedo de medo, de um quase pavor. Mas, não me movi, não mexi um dedo sequer. Esperei. Espero ainda. Estou lá e lá é longe que só. Não me alcanço, mas me vejo por dentro e gosto dessa paisagem.


terça-feira, 24 de maio de 2016

Esquece a agenda, o dia, a hora.

Esquece as promessas e os compromissos. Esquece a pressa. Morre um pouco aqui comigo. Deixa esse sentimento tomar conta do seu corpo, da sua alma e do seu coração. Devagarinho. Feito onda, que se agiganta, pra se perder ali na areia. Se você percebe isso, se você entende isso, se você deseja isso, vai, se deixa levar. E eu te levo. Juro, não te perco, não. Seguro forte a tua mão, mesmo quando não der pé. Sei nadar e te ensino. Sei boiar e te ensino. Se você quiser. Por enquanto, te olho de longe e espero. O problema é que não sei esperar. Mas, também não quero ir embora. E tudo isso é novo e é doido e é um cabo de guerra comigo mesma. Ganho e perco o tempo todo. Desconfio que você ganhe e perca também. Enquanto isso, as pessoas me falam pra ter calma. Pra esperar amanhã, depois, o dia seguinte. Mas, você sabe - e talvez, só você saiba - que pra mim estar viva é uma loucura imensa e pode acabar já. Puft. Já era. E eu quero mais e acho que nunca vai ser o bastante. E deve ser por isso que não durmo à noite, de tanta vontade que o dia comece, que o sol nasça e que a roda gire. Tudo igual e tudo diferente ao mesmo tempo. Não é infinitamente mágico? Eu acho. E queria te contar. Contar, não. Queria era te mostrar o que está por trás dos meus olhos e com meu desequilíbrio te sustentar no ar.



sábado, 21 de maio de 2016

Das lembranças.

Ela atravessava do muro da casa pro muro da delegacia e daí pra rua. Sem medo. Eu descia a escada de pedra e ia caminhando pela areia branca. Luz só dos postes e da lua. Barulho só das ondas. Naquele vai e vem que a gente, de tanto conhecer, adivinhava. Os mais velhos nas espreguiçadeiras de mil anos. A porta-janela vermelha aberta até de madrugada, quando a cruviana acabava com a coragem de qualquer um. A gente dormia na sala, num amontoado bom danado. Eu, que nunca gostei da noite, me sentia aninhada e protegida. Mas, queria mesmo era que o sol da manhã atravessasse as frestas de madeira, avisando que era hora de mar. Transparente, quente, salgado. Podia morar ali. Talvez, more. Até hoje. A gente pensa que vai embora, mas sempre fica.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Hoje, acordei com vontade de tomar outro café na tua casa.

Dessa vez, contigo. Pra falar da bagunça que a minha vida tá nesse momento. Uma bagunça que eu mesma arrumei pra mim. Não é ruim, moça. Pode ser qualquer coisa, menos isso. É sofrido, ok. E tá difícil. Mas, ruim não é. Embora aconteça de chorar e ter aquela vontade de ficar quietinha, na caixa, que tu conhece. Tá rolando um rebuliço danado aqui dentro, tudo mudando de lugar e a gente não gosta de mudança tanto quanto diz gostar. Porque a gente não sabe onde vai parar e esse não saber é muito, muito assustador. Mas também é a aventura da vida, que eu te falava. Isso que tira o chão e dá graça aos dias. Uma graça doida, vá lá. Mas, vê só, sem isso é tudo igual o tempo todo e tudo igual o tempo todo, a gente não quer. A gente nunca quis, não é verdade? A gente quis o maior, o gigante, o absurdo, o que faz o coração acelerar valendo. Só que hoje - e em vários outros dias também - queria poder te contar tudo isso ao vivo ou por telefone ou de qualquer jeito que desse pra ouvir tua voz grave do outro lado. Fazendo os problemas parecerem menores e divertidos até. Porque é isso, né, não? Aprendizado e alegria por poder passar por isso, por poder passar por qualquer coisa. Tu, que era (mas, vai ser sempre) ariana e trator feito eu. Mas, que escrevia mais bonito e sabia me fazer achar graça de mim mesma, por achar graça de si mesma também. Te amo tanto e isso não se acaba é nunca, Misson. Nunca. 

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Eu sinto muito, tudo.

Eu penso muito, em tudo. Eu canso. Mas, eu não sei parar. Eu não sei parar, nem esperar. Eu tento. Eu finjo. Eu quero agradar. Ando mais devagar e escondo essa vontade de dançar. Inspiro, expiro, mas a verdade é que não sei respirar. Vivo assim. Sobrevivo assim. Com essa ânsia de ar. Aí, suspiro. Suspiro infinito, pra conseguir aguentar. 

segunda-feira, 2 de maio de 2016

O menino de Peixes.

Com esse mar no coração. De raiva e de riso, de um jeito que eu não sei medir, nem sentir. Ele que me fala, me ouve, me pergunta, não me entende, mas tenta. Ele que tem o melhor abraço e é porto seguro, pra quem ancora. Eu navego. Eu não paro. Eu teimo, eu calo, eu arranho paredes e me machuco. Ele bate, ele grita, ele expulsa a angustia num desespero que assusta. Eu olho. Eu chego perto, eu tento tocar, eu tenho medo e eu amo. Profundamente.