sexta-feira, 27 de outubro de 2017

É à margem desse rio que me deito. Conheço esse chão, esse cheiro de mato. O calor que aquece o corpo sem queimar. O vento que passeia pela pele. Observo o seu correr. Ora tranquilo, desviando pedras. Ora impetuoso, arrastando árvores. As marés e as luas. Deusas que guardam mistérios sob as suas águas. Turvas, profundas, doces. Ao me olhar nesse espelho líquido, sou rainha, bruxa, mãe, filha, mulher. Às vezes, por birra ou brincadeira, ele desfaz minha imagem e não me reconheço. Fico prostrada, parada, perdida. E ele flui sem mim. Vai embora e me reencontra no mar, minha casa. Mergulhamos um no outro, nessa valsa lenta e cadenciada. Eu que sou solar e arrebento impulsiva, entendo o poder dessa mansidão, a força dessa calmaria. Acolho e recebo.

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