sábado, 21 de maio de 2016

Das lembranças.

Ela atravessava do muro da casa pro muro da delegacia e daí pra rua. Sem medo. Eu descia a escada de pedra e ia caminhando pela areia branca. Luz só dos postes e da lua. Barulho só das ondas. Naquele vai e vem que a gente, de tanto conhecer, adivinhava. Os mais velhos nas espreguiçadeiras de mil anos. A porta-janela vermelha aberta até de madrugada, quando a cruviana acabava com a coragem de qualquer um. A gente dormia na sala, num amontoado bom danado. Eu, que nunca gostei da noite, me sentia aninhada e protegida. Mas, queria mesmo era que o sol da manhã atravessasse as frestas de madeira, avisando que era hora de mar. Transparente, quente, salgado. Podia morar ali. Talvez, more. Até hoje. A gente pensa que vai embora, mas sempre fica.

Nenhum comentário: