sexta-feira, 27 de outubro de 2017
É à
margem desse rio que me deito. Conheço esse chão, esse cheiro de
mato. O calor que aquece o corpo sem queimar. O vento que passeia
pela pele. Observo o seu correr. Ora tranquilo, desviando pedras.
Ora impetuoso, arrastando árvores. As marés e as luas. Deusas que
guardam mistérios sob as suas águas. Turvas, profundas, doces. Ao
me olhar nesse espelho líquido, sou rainha, bruxa, mãe, filha,
mulher. Às vezes, por birra ou brincadeira, ele desfaz minha imagem
e não me reconheço. Fico prostrada, parada, perdida. E ele flui sem
mim. Vai embora e me reencontra no mar, minha casa. Mergulhamos um
no outro, nessa valsa lenta e cadenciada. Eu que sou solar e
arrebento impulsiva, entendo o poder dessa mansidão, a força dessa
calmaria. Acolho e recebo.
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
Estilhaços de vidro. Afiados. Cato os cacos. Corto os dedos. Vou juntando os pedaços. Esboçando um desenho de mim mesma. Novo. Torto. Desalinhado. Cheio de falhas. Cheio de farpas. Caleidoscópio. Pequenos fragmentos formando um todo que ainda não é, que ainda não sou. Por enquanto, gambiarra. Engano. O riso, os gestos, as palavas doces. Enquanto um bicho selvagem preso no peito, grita. Arranha e arranca as unhas. Maltrata pra não morrer. Sufoca pra respirar. Eu finjo. E trinco os dentes pra dor passar. Não passa. Estilhaços de vidro. Afiados. Cato os cacos. Corto os dedos. Vou juntando os pedaços.
quinta-feira, 19 de outubro de 2017
Com você, desentendi o amor.
Desconstruí, desacreditei. O amor por
você. O amor por mim. O amor pelo que chamava de nós. Desatou.
Desabou, desapareceu e me derrubou. Uma rasteira. Uma faca enfiada no
coração. Mais fundo, mais fundo, mais fundo. E sangro todos os
dias. E faço desenhos bonitos num vermelho-vivo-pulsante. Desenho,
porque as palavras não cabem. A razão não cabe. Mas, tentei
entender. Tentei, eu juro. O amor por você. O amor por mim. O amor
pelo que chamava de nós. Deitada, olhando pro teto com a mente a
mais de 100km por hora. 200, 300, acelerando até a exaustão. Pra
quê? Pra decifrar você. E a mim. E ao que chamava de nós. Essa
esfinge que me devora todos os dias. Sem pausa, nem descanso. Até
quando? Te sinto onde você já foi embora.
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
Chão
Que também é pouso. Que também é lar. Terra. Os pés bem firmes em.
Estar. Ficar. Fincar raízes. Aportar. No abraço. No abrigo. No sorriso
fácil. Na luz dourada que invade a tarde e esquenta e assenta. A poeira.
O pensamento. O coração. E os pés. No chão. Que é mato. Flor no vaso.
Amarela. Chão que é ninho. Parada. Descanso do mundo de fora. Descanso
do mundo de dentro. Sento e espero. Sinto e espero. Em paz.
sexta-feira, 15 de setembro de 2017
A sua palavra.
Peça de quebra-cabeça. Tento encaixar. Tento de novo. Teimo. Insisto. Procuro o par, desencontro. O desenho não se forma, sequer se adivinha. Uma pista, que seja, não tenho. Montanha? Nave espacial? Praia deserta? O que vejo é uma figura desfigurada. Talvez, o retrato de mim mesma. Incompleta. Incrongruente. Partida e sem conserto. Desmonto. Desfaço. Desisto. Deito, mas não consigo descansar. Me pego montando o quebra-cabeça mentalmente. Uma palavra, outra, uma peça, outra, nada se encaixa, tudo embaralha e não há cartas na mesa, além das minhas.
segunda-feira, 20 de março de 2017
Do mergulho que se dá pra dentro.
E com o corpo pintado de dourado, parou em frente ao mar. Quis ser sol. Enterrou os pés na areia, mas no vai e vem das ondas, criou raízes e virou árvore. O cabelo ao vento era um emaranhado igual ao seu coração. Fez uma oração pra Iemanjá. Fez uma oração pra força criadora de tudo que seus olhos podiam alcançar. Pedindo clareza e desembaraço. Fez o sinal da cruz, por respeito e proteção. Porque o mar não é para fracos, nem desavisados. Mergulhou até onde o ar lhe permitiu, abriu os olhos e viu o mundo do avesso, que é o lado certo, afinal. Ondulado, fluido, desfocado, meio borrado, mas refletindo luz. Feito ela. Feito todas elas. Que é uma, mas é muitas, é todas.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017
Sobre esse cansaço.
Empurrar pedra ladeira acima. Sentar com
ela apoiada nas costas e não dormir, pra não ser atropelada por ela de volta. Vigília.
Vigília de dias, meses, anos. Os olhos ardem, o corpo dói, a cabeça lateja. E
os sentimentos não encontram mais ordem. Nem os pensamentos. Na cabeça, uma
bagunça só. E você tenta arrumar, enquanto empurra a pedra ladeira acima. Se
concentra no que dói, no que alegra, no que faz chorar, no que faz sorrir. E
chora e ri. E não sente nada, além de uma letargia, porque sentir também cansa
e você sente tudo gigante, imenso, intenso. Maior que a pedra ou, talvez, seja
a pedra que você empurra ladeira acima. Aquela história do peso do mundo nos ombros. Mas, é o
peso de uma pessoa só: você. Toneladas. Se fosse só o corpo. Mas o corpo é
pena, o que pesa é a alma de chumbo.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2017
Um amor que é
Porque estar é pouco, estar nem chega perto.
Um amor atemporal. Sem regras, nem rédeas, feito aquele cavalo selvagem de Clarice,
a Lispector e que mora dentro da gente. De mim, pelo menos. Um amor
desgovernado, que atropela, passa por cima, sem dó, nem piedade. Mas resplandece de luz, beleza e uma riqueza tão
grandes, que a gente diz: “quero é mais”. Porque só é possível querer mais. Num mundo de
praticidades, de “não pode, não deve, não vai, não faz”, desobedece e sorri
radiante. Não tem lei. Não tem dono, rei, nem rainha. Um amor primeiro e
primitivo, que mora perto do que há de mais instintivo do ser. Um amor que grita
urgência, que é criança pequena e quer sair correndo portão afora, rua afora, mundo
afora. Um amor que fere quando não se satisfaz. E que quer mais e mais e mais.
Tem fome e devora a vida, porque não sabe estar. É um amor que
é. E sendo, precisa existir. Respirar e inspirar. Por enquanto, suspira
afobado. E sufoca, mas não morre é nunca.
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
Não quero que você me faça sofrer.
Não quero que você me faça chorar, nem gritar de raiva.
Sentir medo, insegurança, nem essa angústia que aperta o peito.
Quero que você me seja suave e macio.
Quero que você seja alegria dessas desvairadas, dessas gargalhadas.
Quero que você seja meu banho de chuva, minha dança de euforia.
A música que canto bem alto pro mundo todo ouvir.
Não quero achar que você é fraco, inconstante e egoísta.
Não quero te olhar lá do fundo do poço.
Não quero falar mal de você.
Quero é desenhar você bem bonito.
A curva do seu sorriso na ponto dos meus dedos.
Os seus olhos vendo dentro de si mesmo.
O traço das suas sobrancelhas.
Perfeito.
Perfeito na imperfeição, na incompletude.
Você em construção.
Assim, como eu.
Ou em desconstrução.
Assim, como eu.
Desaprendendo pra aprender tudo novo e de novo e de novo e de novo.
Que a vida não para é nunca.
Nem essa vontade da gente de ser mais e maior.
Essa ânsia de movimento, esse ser solar.
Porque sim, a gente faz sol, mesmo quando chove.
E tem chovido é muito.
Não quero que você me faça chorar, nem gritar de raiva.
Sentir medo, insegurança, nem essa angústia que aperta o peito.
Quero que você me seja suave e macio.
Quero que você seja alegria dessas desvairadas, dessas gargalhadas.
Quero que você seja meu banho de chuva, minha dança de euforia.
A música que canto bem alto pro mundo todo ouvir.
Não quero achar que você é fraco, inconstante e egoísta.
Não quero te olhar lá do fundo do poço.
Não quero falar mal de você.
Quero é desenhar você bem bonito.
A curva do seu sorriso na ponto dos meus dedos.
Os seus olhos vendo dentro de si mesmo.
O traço das suas sobrancelhas.
Perfeito.
Perfeito na imperfeição, na incompletude.
Você em construção.
Assim, como eu.
Ou em desconstrução.
Assim, como eu.
Desaprendendo pra aprender tudo novo e de novo e de novo e de novo.
Que a vida não para é nunca.
Nem essa vontade da gente de ser mais e maior.
Essa ânsia de movimento, esse ser solar.
Porque sim, a gente faz sol, mesmo quando chove.
E tem chovido é muito.
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
Às vezes, eu só quero deitar e esperar que isso tudo passe. Mas, isso tudo não passa é nunca. E me cansa andar pelos cantos, no escuro, assustada, com medo de doer demais. Tenho nadado em mares profundos. Tenho mergulhado em ondas gigantes. Tenho corrido maratonas inteiras. Todos os dias. O fôlego me falta, enquanto cumprimento as pessoas na rua, canto alto no carro, passo rímel nos olhos, faço piadas sem graça e rio de mim mesma. Porque sigo em frente. Porque é preciso seguir em frente. Aprendi que apesar da gente querer que o mundo pare e espere, o tempo é implacável e a vida voa. E eu vivo - aos trancos e barrancos, pensando que não vai dar e que não vou aguentar -ainda assim, eu vivo. E vivo é muito. Vivo intensamente, mesmo parada, olhando pro teto, matando monstros que ninguém mais vê.
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
Eu sinto coisas que nunca antes
Como se o meu coração nascesse de novo. Puro, ingênuo. Mas, a minha cabeça é velha e cansada e tem um medo danado dessas portas que se abrem. E não adianta segurá-las com toda força do mundo. Uma por uma, vão se abrindo e revelando um mundo muito novo, mas muito meu. Como se desde sempre estivesse lá, mas eu nunca tivesse percebido. E de repente, surge. E é gigante e ameaçador pelo tamanho que tem, pela força que tem, pelo enraizado que está dentro de mim. E fico me perguntando pra onde eu estava olhando antes? Como estive tanto tempo fora de mim mesma a ponto de não me sentir e porque agora mergulho tão profundo, que quase não consigo submergir? O fôlego me falta. O espanto me sobra. O encanto, também.
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
No meu horizonte, essa onda gigante.
Daqui, vendo ela se avolumar e ganhar corpo, o que sinto é medo. Minha cabeça pensa: agora, lascou, é assim que acaba. Minha cabeça repensa: mergulha, prende a respiração e espera passar. Minha cabeça duvida: será que tenho fôlego pra aguentar? E ela mesma responde: o único jeito de saber é tentar. Eu sei que ela pode me derrubar, me afogar um pouco, me tirar o norte. Mas, uma hora, haverá terra firme. Impossível saber quanto vai demorar e quando vou poder voltar a respirar. Também não dá pra saber onde ela vai me levar e o que vou ser, quem vou ser, quando chegar lá. Mas, vou chegar. Ah, vou. Por enquanto, continuo nadando.
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
Eu só queria te dizer que não precisa ter medo. Não precisa ter medo da minha raiva, das minhas lágrimas e dessa tristeza que parece que grudou em mim. Não precisa ter medo do meu pensamento atropelado, do meu não entendimento, nem da minha não aceitação. Não precisa ter medo quando falo sem parar, nem quando fico calada olhando pro teto. Não precisa ter medo quando apareço de repente, nem quando sumo um pouquinho. Não precisa ter medo quando peço colo, abraço, cafuné, nem quando não deixo você me tocar. Não precisa ter medo da minha intensidade, dessa minha vontade de ganhar o mundo, dos pés balançando sem parar de tanta ansiedade. Não precisa ter medo da minha confusão e de quando sinto essa dor que vai lá na alma, porque minha alma é mesmo à flor da pele. Não precisa ter medo dessa minha urgência, de ser essa pessoa que quer tudo agora e desse meu agora ser gigantesco e profundo. Ando muito cansada de assustar as pessoas. Então, se você puder, não tenha medo.
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
Aí, tem essas horas...
... em que você tem medo da vida e se encosta na minha coragem descabida pra se apoiar. Eu seguro a sua mão. Pra atravessar a rua, a ponte, o mundo. E lhe falo que vai ficar tudo bem e quando falo que vai ficar tudo bem é porque vou me revirar por dentro, ficar do avesso, calar meu grito de pavor e matar todos os leões que estiverem no caminho. Todos. Só porque lhe prometi. Só porque vou até o fim. E nas horas em que você se sente flutuar e acha que o ar lhe sobra nos pulmões, sou chão, permaneço e pertenço. Faço a cama e deito com você, deito sobre você, pra não lhe deixar ir embora se a sua vontade é de ficar. Quando você precisa de amor, abraço. Abraço infinito e impossível. Desenho no seu corpo, toco a sua alma. Sopro essa ternura na sua pele e rio do seu arrepio. Mas, pra quem entrego as minhas armas, quando não quiser lutar? Em quem me seguro, quando me sentir escapar? E quando precisar de afeto, onde vou buscar?
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
Rasgou o meu peito e tirou de lá o coração, sangrando.
Os
sentimentos ali, cansados, surrados, sobreviveram. Queriam renascer em outro
jardim. Novos, lindos, livres da dor. De qualquer dor. Esperançosos. Cheios de
vida e de vontade. Mas, em não quero outro jardim, eu não quero outro lugar. Eu
paro. Eu não respiro. Eu sou a estátua da moça da fonte, da mesma fonte onde
quis tirar uma foto. A foto do dia que devia ser esquecido, do dia que não
devia ter existido. A foto desse dia que não tem mais fim e é sempre noite e
é sempre frio.
E essa perdição é tão involuntária, quanto essa confusão.
Congelo, longe. Derreto, perto. Não existo nesse meio
termo. Não existe esse meio termo. É só uma invenção. Pra a gente achar que tem
controle, pra a gente achar que pode continuar fazendo listas de certo e
errado. Quando a vida é tão mais poderosa. Quando a Natureza é tão mais
furiosa. Não mando no que sinto, não entendo, nem controlo. Mas, aceito. E me
ajoelho diante dessa emoção que tem vinte vezes o meu tamanho e me engole
inteira. Habito. Deito em seu colo. Morro um pouquinho pra renascer inteira.
Porque só sou inteira quando sinto. Sinto muito.
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
Arrumo o meu mundo numa bolsa de mão. Cabe tudo ali. Porque o que vale, vai na alma e no coração. E espero. Sento na estação e observo, sem saber pra onde vou e se vou. É uma escolha solitária, mesmo que pareça que não. Afinal, o que lhe dói e o que lhe faz sorrir é absolutamente pessoal. Ok, tem quem divida com você, tem quem chegue perto, tem quem compartilhe. Mas quem deita a cabeça no travesseiro e sente é você e só você. Então, eu presto atenção ao que vai dentro, ao que vai fora, as pessoas e as possibilidades. Mas sei que quem decide sou eu, comigo. E eu ando em conflito comigo. Ando brigando comigo. Ando me desentendendo. E sei que isso faz parte de uma coisa maior que não sei como se nomeia, mas que cansa, faz roer as unhas e ranger os dentes Tem uns momentos de iluminação, que poderia chamar de epifanias, tamanha beleza. Mas, no geral, no dia a dia, cansa. E eu ando exausta. Com a minha mala e o meu mundo, observando o vai e vem, vendo o tempo passar e com medo que ele finde antes que eu consiga sair do lugar ou decidir ficar.
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
Com ele eu aprendi a respirar.
A relaxar, não e não foi por falta de tentativa. Aprendi a gritar no travesseiro pra espantar a angústia. E que se a garganta doer, gengibre melhora. Aprendi que o sapato da rua não passeia pela casa, mas os erês sim e tiram as coisas do lugar pra brincar com a gente. Aprendi a baixar o volume da televisão, falta aprender a apagar as luzes e a fechar as portas dos armários. Aprendi que tudo bem em ser exatamente quem eu sou. Aprendi que mesmo aceitando quem eu sou, ele tem o direito de ficar triste, abusado e zangado. E a recíproca é sempre verdadeira. Aprendi a me aprender. E a desaprender também. Aprendi a prestar mais atenção em mim e nos outros. Mas, principalmente, em mim. Aprendi que canto afinadinho. Aprendi que não sou sem jeito, nem desastrada e que sim, sei fazer um monte de coisas. Aprendi que a gente não sabe é de nada e que tá nesse mundo mesmo é pra aprender. Aprendi que a função da vida é viver e que isso tem uma força imensa. Aprendi que não preciso engolir o choro. Aprendi que chorar demais me dá dor de cabeça. Aprendi que o tempo é diferente pra cada pessoa. Aprendi a ser menos apressada. Um pouquinho, pelo menos. A ser menos ansiosa, ainda demora. Aprendi que apesar de sermos nós, somos eu e ele. Aprendi que sou livre. Aprendi que ele acha bonito me ver voar. Aprendi que não sei lidar direito com isso. Mas, chego lá. Aprendi que por mais que agradeça, nunca vai ser o bastante e aprendi que não precisa tanto “obrigada”, porque tudo é troca e essa troca não termina é nunca.
Podia ser uma oração.
Que eu saiba ouvir com todo meu corpo, alma e coração. Que
eu saiba calar e me sentir em paz com o silêncio. Mas, que não tenha vergonha
das minhas palavras atropeladas. Que eu consiga continuar falando a verdade,
dizendo que gosto, que quero, que amo. Que a minha intensidade não seja o meu
bicho papão. Que esse sentir imenso não precise ser contido. Que eu continue
tendo fé, mesmo sem saber direito em quem, em quê. E que continue buscando esse
brilho na vida e no mundo. O que dá sentido, o que movimenta, o que faz a gente
querer mais e ir além. Que eu me sacrifique menos. Que eu me perdoe mais. Que consiga
ser generosa comigo. Que consiga dizer: não posso, não quero, não aguento,
preciso de você. Que eu possa ser fraca quando a onda for grande demais pra
segurar. E que seja corajosa mesmo morrendo de medo. Que eu não esqueça nunca,
nem por um minuto que a vida é mágica e é única. E que a gente é mágico e é
único feito ela. Que essa música toque e
a gente dance, como se ninguém tivesse olhando. E ria, ria alto e sem fim. Que a
alegria seja meu norte. E que esse caminho seja feito da luz do teu sorriso ao
me ver caminhar na tua direção.
sexta-feira, 16 de setembro de 2016
Pode ser.
Pode ser bonito. Pode ser mágico. Pode fazer sol. Mas, pode
ser um dia nublado ou até chover. Pode ter uma praia só pra gente. Pode ter
vento assanhando o cabelo, levantando a saia e trazendo a sua voz lá de longe,
macia. Pode ter abraço demorado. Pode ter beijo também. Pode ter mãos dadas. Pode
ter um horizonte feito de mar. Pode ter o coração cheio de uma alegria sempre
nova e tão antiga. Pode o pensamento parar. Pode o desejo morar no estar.
Naquela hora, Naquele lugar. Em mim, em você. Pode ser. É.
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
Ele me viu quando gritei de
raiva abraçando o travesseiro. Chorando aquela dor profunda, que deixa a gente
sem fôlego, sem força e sem chão. Ele me viu vomitar por não aguentar sentir
tanto. Ele me viu e tocou cada
marca que carrego no corpo, na alma e no coração. Com curiosidade e ternura. E me mostrou
a mim mesma num espelho absurdo. E me fez mergulhar no que tinha de mais turvo
e profundo. Ele me viu exausta de tanta realidade e soube que precisava de mais
poesia nessa vida. Ele me viu perdida, levando comigo uma bússola que não funciona. Procurando uma saída, que talvez não haja. Ele viu o meu medo de nunca ser o
bastante. Ou de sempre ser demais. Ele me viu tão sem medida, tão sem meio-termo, tão
sem meio-tom. Ele me viu partida, tentando juntar as peças de um quebra-cabeças de peças
trocadas. Ele me viu e eu sustentei o olhar. Nunca fui tão corajosa e ele me viu.
sábado, 6 de agosto de 2016
O que você está dizendo?
O que você está dizendo? Ouço a sua voz e desconcentro. Sei que você procura um sentido. Sei que você preocupa um sentido. E pra mim, palavras soltas. Aqui e ali, uma luz, um brilho, um entendimento. Mas, meu entendimento tem pouco a ver com a sua explicação. Só adivinho. Só suponho. Pura intuição, sem qualquer base de razão. Razão, aliás, desconheço. Penso em amarelo. Penso em girassóis. Penso naquele pôr do sol rosa e lilás e de caminhar pela cidade sem fim. Palavras, carros, prédios, desce, sobe, vira, passos apressados. Segura a minha mão pra atravessar a rua. Segura a minha mão e não fala mais nada não, por favor. Mas, não falo nada. Não peço nada. Só rio. Sorrio e disfarço. E olho pras pessoas, me distraio com as pessoas. Apressadas. Porque sempre há pressa. A minha única pressa é de compreensão. Mas, compreensão é sempre lenta. Lenta como a sua voz, que tem música, maciez, riso e rouquidão. Mil histórias. Mil nadas desfilando no meu ouvindo, no meu pensamento. O que você está dizendo? Você está dizendo alguma coisa ou é só um disfarce pro silêncio. Penso. E calo. Porque quem fala é você. O quê? Eu não sei. Nem sei se saberei.
quarta-feira, 20 de julho de 2016
Eu sinto muito alto.
Sinto como quem grita. Barulheira, estorvo, confusão. Eu sinto mordendo os lábios, roendo as unhas, martelando o coração. Maquinando. Imaginando. Indo e indo e indo infinito e sem destino, mas com ímpeto de marcha. Eu sinto a pressa, a agonia e a urgência. Mas é que eu sinto o tempo se esvaindo, sabe? E não quero ficar presa - e não quero estar morta - na areia da ampulheta, que é movediça, que é teia e enreda. Eu sinto o sangue nas veias, puro instinto e atenção. Aflição também. É, aflição também. Eu sinto cada palavra, dita ou calada, cada parada, cada eco de respiração. Eu sinto riscando a pele, os papéis e as paredes. Amarelo, laranja e vermelho. Tudo vivo, pulsando, incendiando. Eu sinto lava e eu sei, te queimo.
sexta-feira, 24 de junho de 2016
Tem esse mar, que não dá pé.
Você nada. Mãos, braços, pernas. Tudo é movimento, pra não submergir. Um esforço interminável. Um cansaço inimaginável. O corpo arde. De sol e de sal. A alma sente. O sal e o sol e o cansaço e o esforço. Implacáveis. O que antes era beleza, dói. Até que você conversa com ela, que é Rainha desse Reino, e lhe diz que o melhor é se deixar levar. Parar de remar contra a maré. É mais fácil, mais leve, mais doce seguir a correnteza. Porque, na verdade, não há outro caminho, sabe? Nem outro sentido. É seguir o fluxo do tempo, da vida, do coração. E sim, isso assusta um bocado. Talvez, você vá parar lá no meio do mar e demore muito, muito, muito pra conseguir voltar à terra firme. Mas, talvez, acabe numa praia bonita, de areia branquinha. E é esse pensamento que precisa ser seu guia. Essa crença, essa fé, essa esperança. Porque as ondas não estão só do lado de fora, não. Mas do lado de dentro também. E essas, sim, são gigantescas e indomáveis. A saída é que não há saída, você só se entrega e vai. Navega. Até uma hora, cedo ou tarde, aportar.
terça-feira, 14 de junho de 2016
E essa noite, sou toda espada e escudo.
Marte, meu planeta regente acordou pra luta e arde. Ao seu redor, orbitam o meu corpo, alma e coração. Nessa guerra, em que enfrento a mim mesma, não há vencedor, nem perdedor. Danço comigo, enquanto me derrubo, me destruo, me destroço. Olho no meu olho, mordo a minha carne, bebo do meu sangue. Morro um pouco, pra renascer mais forte. Morro um pouco, pra renascer mais viva.
segunda-feira, 13 de junho de 2016
Você constrói um labirinto. Você se perde. Você não sabe onde está. Aponta a faca para o próprio pescoço e se assusta. Olha pra dentro. Olha pra dentro horas seguidas e espera. Espera até o abismo lhe sorrir de volta, porque o abismo sempre sorri de volta. O abismo dá gargalhadas, meu amor. Esse é o truque, sabe? O fio da navalha e brilha. Brilha feito jóia rara. Brilha e espelha. Espelha o seu reflexo. O reflexo que você imagina ser seu. Partido. Quebrado. Fracionado. Em mil pedacinhos. Um milhão. Um número indizível de tão gigante. Você infinito. Você repetido e repetindo os mesmos erros. Mas, é só o labirinto. É só o abismo. É só o fio dessa navalha que lhe sangra o peito com a força das suas próprias mãos.
domingo, 12 de junho de 2016
Teve um 6 de fevereiro.
Teve um Baile da Saudade. Teve uma noite não dormida, onde ninguém deveria estar. Teve meu pai do outro lado da linha, falando de amor e amizade e do que não se acaba. Teve um compromisso acertado: levar adiante essa irreverência. Ele avisou: o preço é alto. E eu sei, eu sinto. Todos os dias. Mas, não é uma escolha. É aceitar quem se é e seguir em frente com coragem. Nem sempre, a gente consegue. Mas, tenta. E tentar já é um risco danado. Tentar já dói um bocado. Arranha a pele, arranca as unha e a gente sangra. Mas, tem essa sede que não passa. É, não passa é nunca. A gente disfarça, a gente se integra, a gente finge que anda pelo mundo como todo mundo. Mas, a sede de vida pulsa na alma. Não dá sossego. E tem hora que sufoca. E, sabe, é isso que faz a gente querer tudo hoje, agora, porque amanhã talvez não existirá. Porque amanhã, talvez, se extinguirá. A sede, a vida, a gente. Enquanto isso, o olhar permanece atento, a conversa é solta e o abraço, apertado. O choro é livre e o riso é fácil. Ele me disse e eu acredito: a festa é (ou não é) dentro da gente. O resto é só ilusão e faz de conta. Mas, faz de conta que não te contei, tá certo?
sexta-feira, 27 de maio de 2016
Toquei a campainha e corri.
Corri o mais rápido que pude. Mentira. Essa não sou eu. Toquei a campainha e fiquei. Resisti ao impulso de ir embora. Os pés pesando toneladas. Os olhos ardendo. As unhas roídas. O estômago revirando e aquela dor de cabeça-enjôo, tão conhecidos meus. Concentraria na respiração, se houvesse. Mas, o ar estava suspenso. A vida, também. Já o coração batia forte e o corpo todo palpitava, num ritmo acelerado. Podia parar, pensei. Podia sumir, eu. Se não fosse essa estátua, estática, de mim mesma. Um arremedo de medo, de um quase pavor. Mas, não me movi, não mexi um dedo sequer. Esperei. Espero ainda. Estou lá e lá é longe que só. Não me alcanço, mas me vejo por dentro e gosto dessa paisagem.
terça-feira, 24 de maio de 2016
Esquece a agenda, o dia, a hora.
Esquece as promessas e os compromissos. Esquece a pressa. Morre um pouco aqui comigo. Deixa esse sentimento tomar conta do seu corpo, da sua alma e do seu coração. Devagarinho. Feito onda, que se agiganta, pra se perder ali na areia. Se você percebe isso, se você entende isso, se você deseja isso, vai, se deixa levar. E eu te levo. Juro, não te perco, não. Seguro forte a tua mão, mesmo quando não der pé. Sei nadar e te ensino. Sei boiar e te ensino. Se você quiser. Por enquanto, te olho de longe e espero. O problema é que não sei esperar. Mas, também não quero ir embora. E tudo isso é novo e é doido e é um cabo de guerra comigo mesma. Ganho e perco o tempo todo. Desconfio que você ganhe e perca também. Enquanto isso, as pessoas me falam pra ter calma. Pra esperar amanhã, depois, o dia seguinte. Mas, você sabe - e talvez, só você saiba - que pra mim estar viva é uma loucura imensa e pode acabar já. Puft. Já era. E eu quero mais e acho que nunca vai ser o bastante. E deve ser por isso que não durmo à noite, de tanta vontade que o dia comece, que o sol nasça e que a roda gire. Tudo igual e tudo diferente ao mesmo tempo. Não é infinitamente mágico? Eu acho. E queria te contar. Contar, não. Queria era te mostrar o que está por trás dos meus olhos e com meu desequilíbrio te sustentar no ar.
sábado, 21 de maio de 2016
Das lembranças.
Ela atravessava do muro da casa pro muro da delegacia e daí pra rua. Sem medo. Eu descia a escada de pedra e ia caminhando pela areia branca. Luz só dos postes e da lua. Barulho só das ondas. Naquele vai e vem que a gente, de tanto conhecer, adivinhava. Os mais velhos nas espreguiçadeiras de mil anos. A porta-janela vermelha aberta até de madrugada, quando a cruviana acabava com a coragem de qualquer um. A gente dormia na sala, num amontoado bom danado. Eu, que nunca gostei da noite, me sentia aninhada e protegida. Mas, queria mesmo era que o sol da manhã atravessasse as frestas de madeira, avisando que era hora de mar. Transparente, quente, salgado. Podia morar ali. Talvez, more. Até hoje. A gente pensa que vai embora, mas sempre fica.
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