quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Eram meninos correndo por cima dos telhados.

Meninos mocinhos e bandidos. Meninos com pernas e pipas ágeis. Saltavam de um telhado para outro, porque em seu reino o medo não existia e a lua sorria marota. Eram meninos. Eram só as pipas, presas, sem as suas pernas ágeis. Eram pipas presas nos fios de alta tensão. Era noite. A lua sorria marota e os olhos só enxergavam o que queriam ver.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Para Helena Sá Barreto, minha mãe.

Foi um susto olhar a foto dela e pensar que era eu.
Ela, que sempre foi a mais bonita.
Ela, que eu queria ser quando crescer.
De quem eu quebrei a coroa, o colar e ainda desfiei a meia-fina.
Eu que era um desastre, filha dela que era a perfeição.
E ainda diziam que a gente se parecia, quando eu me sentia uma estranha no ninho.
Querendo a sua aprovação, a sua benção, o seu carinho.
Sem saber que estavam lá, que sempre estiveram lá.
Mesmo sem as palavras e os gestos esperados.
Porque as palavras e os gestos esperados podem não acontecer.
Dela pra mim, de mim pra ela.
Ela que foi o meu primeiro amor.
A primeira pele, o primeiro cheiro, o primeiro encontro.
Ela, que é rainha. A minha. Pra quem eu construiria todos os castelos.
O que talvez, ela nem saiba.
Ah, ela sabe.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Não fala nada

Silencia dolorido e é sempre noite.
Os lençóis são coloridos, mas a luz está apagada.
Sorrio pra ninguém e sinto uma quase alegria.
Feito chama de vela, quando falta energia.
Pouco, mas suficiente.
Suficiente me basta.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

E tem esse lugar onde se é rainha.

No território desconhecido que é o Outro, é onde está fincada a nossa bandeira. A minha, tem um arco-íris, um sol, uma estrela e uma cruz vermelha. Tremula sob um calor de quase 40 graus. Mas, tem brisa. No Nordeste sempre tem brisa, Anarina. É nesse lugar imaginário que habito, como lembrança ou possibilidade. E em cada Outro, sou uma diferente de mim mesma. Embora tenha o mesmo cheiro, a mesma voz e as mesmas cores, cada um me traduz dentro de si a seu modo. Eu deixo. Eu gosto. Invento um porto pra cuidar do meu reino. Construo um forte de cinco pontas e levo os meus barcos para o mar.