sexta-feira, 24 de junho de 2016

Tem esse mar, que não dá pé.

Você nada. Mãos, braços, pernas. Tudo é movimento, pra não submergir. Um esforço interminável. Um cansaço inimaginável. O corpo arde. De sol e de sal. A alma sente. O sal e o sol e o cansaço e o esforço. Implacáveis. O que antes era beleza, dói. Até que você conversa com ela, que é Rainha desse Reino, e lhe diz que o melhor é se deixar levar. Parar de remar contra a maré. É mais fácil, mais leve, mais doce seguir a correnteza. Porque, na verdade, não há outro caminho, sabe? Nem outro sentido. É seguir o fluxo do tempo, da vida, do coração. E sim, isso assusta um bocado. Talvez, você vá parar lá no meio do mar e demore muito, muito, muito pra conseguir voltar à terra firme. Mas, talvez, acabe numa praia bonita, de areia branquinha. E é esse pensamento que precisa ser seu guia. Essa crença, essa fé, essa esperança. Porque as ondas não estão só do lado de fora, não. Mas do lado de dentro também. E essas, sim, são gigantescas e indomáveis. A saída é que não há saída, você só se entrega e vai. Navega. Até uma hora, cedo ou tarde, aportar.

terça-feira, 14 de junho de 2016

E essa noite, sou toda espada e escudo.

Marte, meu planeta regente acordou pra luta e arde. Ao seu redor, orbitam o meu corpo, alma e coração. Nessa guerra, em que enfrento a mim mesma, não há vencedor, nem perdedor. Danço comigo, enquanto me derrubo, me destruo, me destroço. Olho no meu olho, mordo a minha carne, bebo do meu sangue. Morro um pouco, pra renascer mais forte. Morro um pouco, pra renascer mais viva.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Você constrói um labirinto. Você se perde. Você não sabe onde está. Aponta a faca para o próprio pescoço e se assusta. Olha pra dentro.  Olha pra dentro horas seguidas e espera. Espera até o abismo lhe sorrir de volta, porque o abismo sempre sorri de volta. O abismo dá gargalhadas, meu amor. Esse é o truque, sabe? O fio da navalha e brilha. Brilha feito jóia rara. Brilha e espelha. Espelha o seu reflexo. O reflexo que você imagina ser seu. Partido. Quebrado. Fracionado. Em mil pedacinhos. Um milhão. Um número indizível de tão gigante. Você infinito. Você repetido e repetindo os mesmos erros. Mas, é só o labirinto. É só o abismo. É só o fio dessa navalha que lhe sangra o peito com a força das suas próprias mãos.

domingo, 12 de junho de 2016

Teve um 6 de fevereiro.

Teve um Baile da Saudade. Teve uma noite não dormida, onde ninguém deveria estar. Teve meu pai do outro lado da linha, falando de amor e amizade e do que não se acaba. Teve um compromisso acertado: levar adiante essa irreverência. Ele avisou: o preço é alto. E eu sei, eu sinto. Todos os dias. Mas, não é uma escolha. É aceitar quem se é e seguir em frente com coragem. Nem sempre, a gente consegue. Mas, tenta. E tentar já é um risco danado. Tentar já dói um bocado. Arranha a pele, arranca as unha e a gente sangra. Mas, tem essa sede que não passa. É, não passa é nunca. A gente disfarça, a gente se integra, a gente finge que anda pelo mundo como todo mundo. Mas, a sede de vida pulsa na alma. Não dá sossego. E tem hora que sufoca. E, sabe, é isso que faz a gente querer tudo hoje, agora, porque amanhã talvez não existirá. Porque amanhã, talvez, se extinguirá. A sede, a vida, a gente. Enquanto isso, o olhar permanece atento, a conversa é solta e o abraço, apertado. O choro é livre e o riso é fácil. Ele me disse e eu acredito: a festa é (ou não é) dentro da gente. O resto é só ilusão e faz de conta. Mas, faz de conta que não te contei, tá certo?