terça-feira, 25 de março de 2008

Solta a minha mão.

Você não me conhece, nunca me conheceu. Era preciso muito mais tempo. Muito mais tempo e muito mais sal. Era preciso vontade de entrega. Era preciso vontade. E não houve. Não o bastante. Eu sei e você sabe. E por mais que você conte outra história por aí, seu coração sabe que é verdade. Então, pára. Acho que o tempo de confundir, de aumentar, de inventar, acabou. Não adianta continuar me olhando, sem me ver. Você nunca me viu. Você nem sequer tentou. Criou essa personagem pra mim: feia, malvada, egoísta, cruel, mas não me serve a carapuça.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Jogo da verdade.

E se você me perguntasse se acho que a culpa é sua, eu diria que sim.
E se você me peguntasse se acho que você pode fazer alguma coisa, eu diria que pode.
E se você me perguntasse se não acredito em você, eu diria que acredito.
Como também acredito que, às vezes, você não sabe o que faz.

Todos os dias, ele cobre o passado com o lençol branco preferido.

Como se assim, ela não fosse perceber um elefante no meio da sala. Pelo esforço dele, ela disfarça. Arruma os móveis e a vida, como se não houvesse um animal enorme e feroz à sua espreita. Imagina o que ele imagina. Imagina se ele, realmente, acredita que omitir faz inexistir. Feito mágica. Entende como cuidado, como carinho. Por isso, finge que não vê. Enquanto ele, finge que não sabe que ela finge que não vê...

O problema é que o passado é bicho teimoso. Certas noites, faz um barulho tão medonho, que não deixa ninguém dormir. E o lençol branco preferido não consegue esconder as palavras que grita, mesmo em silêncio.

terça-feira, 18 de março de 2008

Aprendizados.

Ele vai, mas fica na lista rabiscada de coisas pra casa nova, no número de telefone que esqueci de copiar no celular, nas Havainas preta e branca, no copo azul, na pasta vermelha, nos chás guardados no armário, na coca-cola na geladeira, no cheiro do sabonete, na toalha atrás da porta, no lençol preferido que agora é meu, que agora é nosso. Porque ele diz que preciso me conjugar no plural e eu escolho o verbo com-par-ti-lhar.

Ele vai, mas fica cada vez mais em mim.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Aí, você fala isso e aquilo.

Eu ouço, sem dizer palavra. O que me vem à mente, o que fica ali, na ponta da língua, ia lhe parecer agressão. E eu passo. O problema é que fica latente, não adormece. Tarde da noite, olho pra você e a minha vontade é de falar que a minha opinião é. Mas, sinto tanta ternura, tanta doçura e penso que não é justo pintar um quadro feio, da paisagem que lhe parece tão bonita. Pego o pensamento pela mão e levo pra longe desse campo minado. Contigo, quero passear mais leve.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Inspira, expira.

É estranho andar pelo mesmo jardim de mãos dadas com um novo senhor do castelo. O tempo é outro, mas o espaço quase não mudou. De olhos fechados, sei o que encontro se esticar o braço ou der dois passos pra esquerda. Aí, o Antes invade o Agora sem cerimônia. Sente-se em casa, senta e fica. O peito se enche de lembranças e mal consigo respirar.

A verdade é que quero-muito-preciso aprender que é igual, mas diferente.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Cotidianices.

Tenho uma cama branca, que combina com o guarda-roupa branco. Tenho um colchão honesto, que receberá lençóis coloridos e felizes. Meu quarto já é um quarto. Não sei se vou me acostumar com as luazinhas e estrelas que acendem no teto. Quero uma luminária bonita pra poder ficar lendo até mais tarde. Porque agora leio até mais tarde. Continua sendo difícil dormir, sabe? Até me re-acostumei a assistir televisão. Meu chefe fica contente porque vejo todos os comerciais da concorrência e posso dar a minha opinião nas reuniões de pauta. Ainda prefiro filmes. Ganhei Dois dias em Paris e Persepolis. Só comecei a ver e já tô gostando. Também ganhei a trilha de Juno, mas o CD da vez é o Clube da Esquina, que dá um calorzinho no coração e faz pensar verde.

=)

Os dias tem um ritmo diferente quando não são só meus.
Acho que danço mais bonito quando tenho par.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Se fosse só respirar, nera?

Mas, não é. Há 13 anos, viver tem sido uma luta de todosantodia, amém. Eu canso, mas sigo. E é uma batalha de Mim para Comigomesma. Por mais amor que o Outro me tenha. Ajuda segurar a minha mão, ajuda dizer que vai ficar tudo bem, ajuda fazer cafuné, ajuda velar meu sono, ajuda estar perto. De verdade. E ando precisada, embora não consiga dizer em alto e bom som. As palavras me fogem. Aí, desenho.

terça-feira, 4 de março de 2008

"Ele ligou. O que é que eu faço?"

E a única resposta em que consigo pensar é LIGA DE VOLTA. Isso, se a vontade for maior que o orgulho, for maior que o receio. Se não for, já perdeu a graça. Mas, enquanto o nome dele nas ligações perdidas do celular, fizer o coração acelerar e as pernas tremerem, liga. Liga de volta. Arrisca e petisca.