sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Presta atenção,

ninguém sabe o que está fazendo o tempo todo. Ninguém é dono da razão. Tá todo mundo meio doido, tá todo mundo meio torto. Essa certeza absoluta é só fachada, é só conversa. As pessoas também estão quebradas, também estão sangrando. Não é só você. Nem sou só eu. Só há quem finja melhor.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Você vestido de bruxa.

Roxo, preto e óculos. Por trás dos óculos, cílios. Os cílios mais bonitos. E a boca. A boca. Adivinho o gosto de cerveja e cigarro. O gosto de cerveja e cigarro de outros Carnavais.  Já foram tantos Carnavais. Mas, esse não. Peraí, esse não! Decidi numa mistura de teimosia, preguiça e cansaço. Mas, você vestido de bruxa me puxa e me fala tão de perto. Tão de perto. E ali perto, a sua casa. Ali, logo ali.  A sua voz, rouca. Cerveja e cigarro. O gosto, o cheiro e tantos Carnavais. Passa um ônibus, o meu ônibus. Mais, dois ou três. Você sobe comigo, eu desço. Você diz que sim, desobedeço. Você me puxa, de bruxa. Os óculos, os cílios, a boca. Feitiço. Eu fujo. Por um triz. Essa foi por um triz.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Vem chuva.

A minha vontade é de ir ver o mar. Na rua vazia, ele fala alto. Alto e apressado, como se fosse urgente. E não é. A angústia aperta o peito, mas o amor me sopra redemoinhos. Tudo é mar.

sábado, 21 de novembro de 2015

Em mim, habita um animal feroz.

Que é todo pele, unhas e dentes. Um aguaceiro, uma torrente, um vendaval. Um cavalo doido, um Carnaval. Um animal feito de vontades imperativas. Que exige, que demanda, que tem sede e nunca cede. Um animal veloz que me distrai dos meus dias, dos meus planos, dos meus medos. Um animal desenfreado, que atropela a minha vida e me revira a alma, sem nem olhar para trás. Porque não conhece a culpa, mas também não conhece a calma. É desmantelo, desvario, desassossego. Esse animal que me arranha a carne e que liberta o que o tempo, as regras, os prazos, as contas e as convenções sufocam em meu coração.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Um colar de contas azul...

Um colar de contas azul de Salvador e um café. Um café, que é só um motivo. E tudo que a gente precisa é de um motivo que possa nomear. Porque motivos que não cabem em palavras,  também não cabem no peito. No peito onde todo o ar, foi substituído por alguma outra substância muito mágica e muito abstrata e muito, muito, muito volátil.  É isso que eu respiro no café, azul, enquanto faço de conta. 

Esses dias...

... Eu aceito o seu cansaço, as suas olheiras, o seu ranger de dentes no sono inquieto. Eu aceito o seu silêncio imenso e o seu desacerto no violão. Eu aceito o seu desassossego. Eu aceito quando me esquece por muitos minutos seguidos e depois aparece na porta do quarto pra ver se tá tudo bem, tá tudo bem. Eu aceito esse seu aperto no peito, essa agonia de quem precisa de calma e não tem. Eu aceito as suas pequenas fúrias e o seu desejo de fuga. Eu aceito. E você aceita o meu choro comprido. A minha falta de fome, a minha falta de sono. O meu aperreio, as minhas dúvidas, as minhas dúvidas, as minhas dúvidas. Aceita essa minha vontade de não sei o quê. Aceita a minha mania de falar sem parar e aceita quando me calo para nunca mais. Aceita as minhas inconstâncias, as minhas incertezas, as minhas intempéries. Esses dias, você aceita

sábado, 14 de novembro de 2015

Sobre o trator que passa por cima do seu coração...

... Quando outro coração falha. O maior, o mais forte, o mais generoso. Aquele que lhe tem mais amor. O atropelo que é. O desmantelo que é. E os segundos viram minutos, e os minutos viram horas. Em compasso lento de espera. Espera e alerta, enquanto o meu peito também aperta. Porque todos os meus sentidos estão com ele. Porque todo o meu ser é dele. Eu, pedaço dele solto no mundo. Eu, pipa solta no vento. Que nessa hora é forte, é tempestuoso, é imperativo e é Deus. Ajoelho e rezo. A fé também me falha (e falha e falha e falha), mas não falta.