quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Um amor que é

Porque estar é pouco, estar nem chega perto. Um amor atemporal. Sem regras, nem rédeas, feito aquele cavalo selvagem de Clarice, a Lispector e que mora dentro da gente. De mim, pelo menos. Um amor desgovernado, que atropela, passa por cima, sem dó, nem piedade.  Mas resplandece de luz, beleza e uma riqueza tão grandes, que a gente diz: “quero é mais”. Porque só é possível querer mais. Num mundo de praticidades, de “não pode, não deve, não vai, não faz”, desobedece e sorri radiante. Não tem lei. Não tem dono, rei, nem rainha. Um amor primeiro e primitivo, que mora perto do que há de mais instintivo do ser. Um amor que grita urgência, que é criança pequena e quer sair correndo portão afora, rua afora, mundo afora. Um amor que fere quando não se satisfaz. E que quer mais e mais e mais. Tem fome e devora a vida, porque não sabe estar. É um amor que é. E sendo, precisa existir. Respirar e inspirar. Por enquanto, suspira afobado. E sufoca, mas não morre é nunca.