quarta-feira, 20 de julho de 2016

Eu sinto muito alto.



Sinto como quem grita. Barulheira, estorvo, confusão. Eu sinto mordendo os lábios, roendo as unhas, martelando o coração. Maquinando. Imaginando. Indo e indo e indo infinito e sem destino, mas com ímpeto de marcha. Eu sinto a pressa, a agonia e a urgência. Mas é que eu sinto o tempo se esvaindo, sabe? E não quero ficar presa - e não quero estar morta - na areia da ampulheta, que é movediça, que é teia e enreda. Eu sinto o sangue nas veias, puro instinto e atenção. Aflição também. É, aflição também. Eu sinto cada palavra, dita ou calada, cada parada, cada eco de respiração. Eu sinto riscando a pele, os papéis e as paredes. Amarelo, laranja e vermelho. Tudo vivo, pulsando, incendiando. Eu sinto lava e eu sei, te queimo.