sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Além do que se vê.

O cabelo curto tentava honestamente continuar preso no rabo-de-cavalo. O elástico laranja combinava com a blusa da mesma cor. O brinco feito de conchas do mar, balançava a cada sopro de vento, fazendo cócegas no pescoço. Notou a mangueira carregada de frutas do outro lado da rua e desejou o gosto doce na boca. Mordeu os lábios. Roeu a unha. Descascou um pouco mais do esmalte vermelho. Encostou a cabeça na janela e se distraiu com o movimento dos carros até quase adormecer. Abriu os olhos quando o sinal fechou. E foi aí que avistou o menino de camisa preta e mochila amarela. Parado na faixa de pedestres. Indeciso entre o ir-e-vir. Sorriu pequenininho. Quis descer do ônibus e segurar a mão dele. Mas, encostou novamente a cabeça na janela, tirou o mp3 da bolsa florida, colocou os fones no ouvido e escapou daquele momento na música preferida.

2 comentários:

Manuela disse...

além do belo título (bela música), é um belo texto, sem dúvidas.
que retrata indiretamente momentos que aconteceram até comigo, e mais de uma vez.

Anônimo disse...

por muitas vezes nos perdemos em melodias perfeitas, chegando onde jamais deveríamos ter partido.