quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Às vezes, eu só quero deitar e esperar que isso tudo passe. Mas, isso tudo não passa é nunca. E me cansa andar pelos cantos, no escuro, assustada, com medo de doer demais. Tenho nadado em mares profundos. Tenho mergulhado em ondas gigantes. Tenho corrido maratonas inteiras. Todos os dias. O fôlego me falta, enquanto cumprimento as pessoas na rua, canto alto no carro, passo rímel nos olhos, faço piadas sem graça e rio de mim mesma. Porque sigo em frente. Porque é preciso seguir em frente. Aprendi que apesar da gente querer que o mundo pare e espere, o tempo é implacável e a vida voa. E eu vivo - aos trancos e barrancos, pensando que não vai dar e que não vou aguentar -ainda assim, eu vivo. E vivo é muito. Vivo intensamente, mesmo parada, olhando pro teto, matando monstros que ninguém mais vê.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Eu sinto coisas que nunca antes

Como se o meu coração nascesse de novo. Puro, ingênuo. Mas, a minha cabeça é velha e cansada e tem um medo danado dessas portas que se abrem. E não adianta segurá-las com toda força do mundo. Uma por uma, vão se abrindo e revelando um mundo muito novo, mas muito meu. Como se desde sempre estivesse lá, mas eu nunca tivesse percebido. E de repente, surge. E é gigante e ameaçador pelo tamanho que tem, pela força que tem, pelo enraizado que está dentro de mim. E fico me perguntando pra onde eu estava olhando antes? Como estive tanto tempo fora de mim mesma a ponto de não me sentir e porque agora mergulho tão profundo, que quase não consigo submergir? O fôlego me falta. O espanto me sobra. O encanto, também.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

No meu horizonte, essa onda gigante.

 Daqui, vendo ela se avolumar e ganhar corpo, o que sinto é medo. Minha cabeça pensa: agora, lascou, é assim que acaba. Minha cabeça repensa: mergulha, prende a respiração e espera passar. Minha cabeça duvida: será que tenho fôlego pra aguentar? E ela mesma responde: o único jeito de saber é tentar. Eu sei que ela pode me derrubar, me afogar um pouco, me tirar o norte. Mas, uma hora, haverá terra firme. Impossível saber quanto vai demorar e quando vou poder voltar a respirar. Também não dá pra saber onde ela vai me levar e o que vou ser, quem vou ser, quando chegar lá. Mas, vou chegar. Ah, vou. Por enquanto, continuo nadando.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Eu só queria te dizer que não precisa ter medo. Não precisa ter medo da minha raiva, das minhas lágrimas e dessa tristeza que parece que grudou em mim. Não precisa ter medo do meu pensamento atropelado, do meu não entendimento, nem da minha não aceitação. Não precisa ter medo quando falo sem parar, nem quando fico calada olhando pro teto. Não precisa ter medo quando apareço de repente, nem quando sumo um pouquinho. Não precisa ter medo quando peço colo, abraço, cafuné, nem quando não deixo você me tocar. Não precisa ter medo da minha intensidade, dessa minha vontade de ganhar o mundo, dos pés balançando sem parar de tanta ansiedade. Não precisa ter medo da minha confusão e de quando sinto essa dor que vai lá na alma, porque minha alma é mesmo à flor da pele. Não precisa ter medo dessa minha urgência, de ser essa pessoa que quer tudo agora e desse meu agora ser gigantesco e profundo. Ando muito cansada de assustar as pessoas. Então, se você puder, não tenha medo.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Aí, tem essas horas...

... em que você tem medo da vida e se encosta na minha coragem descabida pra se apoiar. Eu seguro a sua mão. Pra atravessar a rua, a ponte, o mundo. E lhe falo que vai ficar tudo bem e quando falo que vai ficar tudo bem é porque vou me revirar por dentro, ficar do avesso, calar meu grito de pavor e matar todos os leões que estiverem no caminho. Todos. Só porque lhe prometi. Só porque vou até o fim. E nas horas em que você se sente flutuar e acha que o ar lhe sobra nos pulmões, sou chão, permaneço e pertenço. Faço a cama e deito com você, deito sobre você, pra não lhe deixar ir embora se a sua vontade é de ficar. Quando você precisa de amor, abraço. Abraço infinito e impossível. Desenho no seu corpo, toco a sua alma. Sopro essa ternura na sua pele e rio do seu arrepio. Mas, pra quem entrego as minhas armas, quando não quiser lutar? Em quem me seguro, quando me sentir escapar? E quando precisar de afeto, onde vou buscar?

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Rasgou o meu peito e tirou de lá o coração, sangrando.

Os sentimentos ali, cansados, surrados, sobreviveram. Queriam renascer em outro jardim. Novos, lindos, livres da dor. De qualquer dor. Esperançosos. Cheios de vida e de vontade. Mas, em não quero outro jardim, eu não quero outro lugar. Eu paro. Eu não respiro. Eu sou a estátua da moça da fonte, da mesma fonte onde quis tirar uma foto. A foto do dia que devia ser esquecido, do dia que não devia ter existido. A foto desse dia que não tem mais fim e é sempre noite e é sempre frio. 

E essa perdição é tão involuntária, quanto essa confusão.

Congelo, longe. Derreto, perto. Não existo nesse meio termo. Não existe esse meio termo. É só uma invenção. Pra a gente achar que tem controle, pra a gente achar que pode continuar fazendo listas de certo e errado. Quando a vida é tão mais poderosa. Quando a Natureza é tão mais furiosa. Não mando no que sinto, não entendo, nem controlo. Mas, aceito. E me ajoelho diante dessa emoção que tem vinte vezes o meu tamanho e me engole inteira. Habito. Deito em seu colo. Morro um pouquinho pra renascer inteira. Porque só sou inteira quando sinto. Sinto muito.