quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O que será que me dá.

Ele fechou os olhos e disse que não lembrava mais como era aquela sensação de silêncio absoluto quando, tarde da noite, os carros param de passar por trinta, quarenta segundos. Olhos arregalados e o indicador apontando o oco, o buraco no meio da barulheira de sempre. E eu nem percebi, acostumada com o movimento acelerado. Lá ou aqui é a minha rotina sempre & em todo lugar.

Minha casa tem um cheiro muito próprio. Pablo diz que é cheiro de taco, eu não sei, nunca morei numa casa com piso de taco antes.

No apartamento da Boa Vista, o vento trazia o cheiro de cana queimada vezenquando. Era estranho, porque no meio da cidade não tem plantação. Vai ver, são engenhos fantasmas, que fazem suas queimadas à noite, enquanto o mundo dos vivos, dorme.

Sempre que vou ao oculista, fico com um quase-medo. Quando descobri que era diabética, me disseram que podia acontecer isso e aquilo. Desde então, a cada seis meses vou lá e entro no consultório de Dr. Guillherme com o coração tiquetaqueando descompassado.

Ontem, falava descontroladamente pro pensamento não pensar. Como sempre, fiquei insegura na hora de dizer se enxergava melhor com este ou este, este ou o anterior, o primeiro ou o segundo. Vejo as letrinhas lá na frente quase do mesmo jeito e peço pra ele repetir e repetir e repetir e ele me tem muita paciência.

Depois, tem o exame da luz azul, que diz se a presão do olho tá boa, tá. E aquele outro da luz branca, que diz se o fundo do olho tá bem, tá. Pronto. Liberada até agosto.

Na volta, parada estratégica e emergencial na Fundaj. Queria ter visto O Lutador, mas chegamos atrasados. Ele disse que eu não ia conseguir ler a legenda de qualquer forma, mas eu podia apostar que sim.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Diarices.

Essa semana, os dias têm cara de sexta-feira.
É o Carnaval que abre alas.
Quem é de folia, pensa na festa. Quem não é, no descanso.
Há três noites, durmo lá pelas duas.
Como se o amanhã fosse sempre sábado, que ainda demora.
Domingo, porque o coração levou um baque e doeu que só.
Segunda, porque o sono me escapuliu.
Ontem, porque a noite foi de chegadas.
O meu transatlântico veio de avião.
E a camisa cor de rosa é a mais bonita.
Dessa vez, não foi tão estranho voltar.
Até pensei que seria.
Porque essas mudanças me cansam demais.
Quando me acostumo em estar num lugar, tenho que ir para o outro e quando me acostumo com o outro, tenho que voltar pra onde estava antes.
A minha bolsa já não comporta as minhas coisas.
Que dirá, meu coração.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Do que eu não quero mais.

Tem noites em que a gente dói. Uma dor assim tão grande que chorar não adianta e mesmo assim você chora, porque não tem outro jeito. O remédio pra dor de cabeça não funciona, o travesseiro não acalma, o livro preferido não distrai. Você fica ali olhando os carros pela janela e rezando pra aquietar o coração que não obedece. Tentando entender porquê e achando que não é justo, que não é certo e que tudo que você sente parece não ter a menor importância, quando do lado de lá, a música é alta demais.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Durante vinte anos foi o caminho de casa.

Da minha casa. Não é mais há oito anos. E ainda bem que não é. Fazer esse percurso hoje, foi estranho. Ver que tudo continua igual, apesar das diferenças, também. As casas mais bonitas, agora têm grades e muros altos. Não se vê mais o terraço de Vera, nem se adivinha a piscina de Daniel.

Andar a pé, ficou ainda mais esquisito. Ninguém na rua. Portas e janelas fechadas. O asfalto só vai até a metade da Ulisses Montarroyos. Na outra metade, poeira, que faz o calor parecer ainda mais quente. Os prédios vizinhos continuam lá. Os antigos vizinhos, não.

Interfonei, abriram a porta e senti como se tivesse estado ali ontem. Eu fazia parte, eu era, eu estava. Eu, Pablo, mainha e vó Lu. Painho e Fredy, também. Mas, não por tanto tempo, não em tantas lembranças. Porque foi uma vida inteira. Dos cinco aos vintiseis.

O olhar sabe onde encontrar cada coisa. O coração sabe o que sentir em cada canto. A cabeça não sabe mais de nada. Confusa, misturando os tempos de antes e de agora. O sofá da minha mãe está na recepção.

Quis ir embora assim que cheguei. Mas, fiquei.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Amanhecendo.

Da minha janela, vi o dia amanhecer cor de rosa. Depois, o céu se acinzentou ameaçando chuva. Trouxe a sombrinha vermelha e, por causa dela, a moça de blusa verde veio conversando comigo no caminho. As tristezas dela, que nem são, parecem com as minhas, que talvez também não sejam. E a gente riu do que dito, porque mesmo no que dói, há graça.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Ando cansada de despedidas.

Acho que quando acontece uma dessas grandes, dessas pra sempre, a gente não quer que ninguém mais vá embora, nunca mais. Sei que por esses dias, mais um avião vai cruzar os céus do Brasil, de Recife pra Brasília. Sei que devia ser um motivo pra ficar contente e é. Mas, penso na falta e isso me dói demais. Não tenho muitas gentes no mundo. Não dessas que eu queira estar perto e compartilhar a vida. Conto nos dedos e queria todas ao alcance das mãos.

Idas e vindas.

Das coisas que mais gosto nessa vida, é virar aquela esquina que dá na Conselheiro Aguiar e sentir o vento no rosto. Quando tem cheiro de mar é ainda melhor. Quase consigo esquecer o cansaço e a chateação do dia. Quase. É que quando chego, ainda estranho, ainda me sinto fora do lugar. E acho que também vou estranhar e me sentir fora do lugar, quando voltar pr’aquela outra casa, que é minha, na terça-feira. Vou e volto e vou de novo depois. Ele se adapta como se nunca tivesse saído do lugar. Ou pelo menos é assim que me parece. Mas, a verdade é que a gente nunca sabe o que vai no coração do Outro. Por mais perto que se esteja. E eu ando distante. Dele. De mim. Do mundo. O engraçado é que quem olha assim, nem imagina.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Seis de fevereiro de dois mil e nove.

O dia tinha sido chato, com as cobranças mais descabidas. Ele ligou dizendo que vinha me buscar na agência. Depois, mandou sms dizendo que tinha uma coisa importante pra me contar e eu fiquei com o coração apertado, porque sempre fico com o coração apertado quando as pessoas têm uma coisa importante pra me contar. Fui correndo encontrá-lo. Vi quando passou por mim sem me ver. Fiz o caminho de volta, maldizendo os passos rápidos de um metro e oitenta e três. Cheguei esbaforida e pedi que me falasse de uma vez. Aí, soube que ele ia fazer um teste lá longe e que se desse tudo certo ia ser a coisa mais maravilhosa. E foi impossível não ficar feliz ao saber do desejo realizado, mesmo sabendo que vou sofrer com a distância, que sempre sofro (quando quase não agüento, penso que podia ser pior, que podia ser ainda mais longe e sinto alívio por três minutos). E como era a melhor notícia e era sexta-feira, fomos comer crepes deliciosos, enquanto fazíamos planos e elaboramos estratégias. Tudo pra dar tudo certo. Depois, fomos pra casa onde recebi a massagem prometida há mais dia uma semana. Ele disse que não tenho mais tanta agonia nos pés e eu disse que não tenho mais tanta agonia na vida. Senti meu coração cheio de amor e de esperança e de alegria e era mesmo o que precisava pra agüentar o que estava por vir.

Pouco tempo depois, o telefone tocou e soube que quando tio Dudu me disse “tchau, amor” na terça-feira, lá naquele hospital, foi mesmo a última vez.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Diarices.

Quanto mais me acostumo com rotina da gente, mas fica difícil voltar pra casa dela.
Que também é minha, mas não tão minha, quanto aquela que é minha e dele, onde moro cada vez mais.
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Ontem, que era dia de despedida, ganhei um jantar bonito que só.
Mas, a gente é guloso e comeu tapioca da moça da esquina antes e tudo sobrou.
Até o sorvete de creme ficou lá.
Quis demais ficar acordada até mais tarde, mas me é tão impossível às segundas-feiras...
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São só 15 dias.
São só 15 dias.

Feito mantra, que é pra ver se o tempo passa mais rápido. Não passa.
Amanhã vai ficar tudo bem. Hoje não.
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Tenho sido menos dramática.
E isso não tem sido um sacrifício maiordomundo.
Deve ser porque são tantos os problemas maiores. Digo, no mundo.
Muito embora, vezenquando, os problemas maiores do mundo não contem.
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Chove.
Chuvinha besta.
Parece que os próximos dias vão ser mesmo nublados.